terça-feira, 13 de março de 2018

Tropeiros da região


Cel. Candido Severiano Maia


Coronel Candido Severiano Maia

O Coronel Candido Severiano Maia, também conhecido como “Coronel Candóca” nasceu na cidade de Lages – Santa Catarina, filho de Severiano José da Maia e Ignês Coelho,  teve pelo menos mais três irmãos, entre eles Manuel Severiano Maia e o famoso José Severiano Maia, o qual também tinha a patente de Coronel da Guarda Nacional, sendo um grande fazendeiro na cidade de Mafra – Santa Catarina, exercendo o cargo de prefeito e posteriormente de deputado estadual.
O Coronel Candoca foi considerado por muitos como o maior tropeiro da nossa região, chegando em Capão Bonito no ano de 1910, onde adquiriu a Fazenda Santa Inês, hoje atual propriedade da Fibria Celulose, tinha uma personalidade forte e marcante, estatura alta e uma fisionomia daqueles legítimos gaúchos descendentes dos primeiros colonizadores do Sul do Brasil, deixou uma grande influência cultural na região durante os quarenta anos que permaneceu por aqui, passava a maior parte do tempo na sua fazenda onde administrava pessoalmente, sempre em traje gaúcho, montava seu cavalo percorrendo as diversas invernadas da imensa fazenda; Lageado, Pinheiro Seco, Pedra Chata, Cachoeirinha, 120, Fundão e Valinho.  
Nos primeiros anos possuía uma serraria, qual foi abastecida pela abundância de araucárias que havia na região, mais o forte sempre foi a criação de cavalos e o gado de corte, trouxe muitas tropas do Sul, forneceu cavalos para a “Força Pública de São Paulo” atual Policia Militar, para o antigo Distrito Federal do Rio de Janeiro e para diversas outras regiões do estado de SP.

Segundo os meus tios, a sede da fazenda era uma construção de madeira estilo catarinense, a qual ficou conhecida popularmente por "castelinho", e próximo da sede estava o “galpão”, local onde a peãozada ficava alojada, e nas primeiras horas da manhã já se via o Candóca em pé preparando o seu tradicional chimarrão, assim era a rotina da época, os seus empregados embarcavam no trem em Buri indo de encontro com a tropa que vinha do sul sendo conduzida pelos gaúchos, encontravam-se em determinado ponto da estrada, mais precisamente em uma das barreiras, assumiam o comando da tropa e seguiam viagem rumo a Capão Bonito, onde as tropas ficavam por tempo indeterminado até recuperarem-se da longa viagem, após esse período os animais eram vendidos pela região de Laranjal Paulista, Cerquilho, Conchas, Itu e Piracicaba.
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Sede da Fazenda Santa Inês em Julho de 1987 pouco antes de ser demolida 
(Foto: Moacir Junior)


Timbre de carta do Coronel Candóca


Após o falecimento de sua primeira esposa casou-se pela segunda vez com a professora Albertina Ribas de Itapetininga, onde passou a viver parte do tempo que não estava na fazenda, possuía uma casa na esquina da Rua Julio Prestes com a Rua Campo Sales, centro de Itapetininga, e como cidadão Itapetiningano teve papel fundamental na criação da Associação dos Comerciantes de Itapetininga e região, sendo seu primeiro presidente no período de 1933/1937.

Casa estilo neocolonial do Coronel Candóca em Itapetininga, demolida em 2008
No ínicio da década de 50 a Fazenda Santa Inês é adquirida pela a empresa Votorantim, e o Coronel Candóca muda-se para a Vila Mariana em São Paulo onde passou os seus últimos dias de vida. 

Texto: Pedro Antonio Junior 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Tropeiros e as Feiras de Muares de Sorocaba



  • Principio

Com certeza o comércio de muares trazidos do Sul foi a maior atividade econômica do século XVIII e XIX, na região Sul do Brasil, mais precisamente entre 1750 e 1850, durante esse período acredita-se que mais de 1 milhão de muares foram trazidos do estado do Rio Grande do Sul rumo a cidade de Sorocaba, onde acontecia a famosa Feira de Muares.

Para entender melhor a história do tropeirismo é preciso voltar no principio da colonização, de onde e como surgiram os muares que passaram pela nossa região rumo as feiras de Sorocaba?

Com a chegada dos Espanhóis na região do Rio da Prata na Argentina  no século XVI, foram introduzido os primeiros cavalos oriundos da península Ibérica, juntamente com outros animais domésticos, os quais se adaptaram perfeitamente as condições das planícies argentinas, uruguaias se extendendo até o estado do Rio Grande do Sul.

Segundo os dados históricos Don Pedro de Mendoza, primeiro fundador da cidade de Buenos Aires, onde se estabeleceu no ano de 1536, foi o responsável pela introdução dos primeiros 72 cavalos na região. Devido a certas dificuldades como falta de alimento e uma série de ataques dos nativos da região, os colonizadores foram obrigados a partir de Buenos Aires, deixando lá 5 éguas e 7 cavalos. Estes animais, começaram a se reproduzir em liberdade, num processo de seleção natural formando rebanhos de milhares de animais selvagens. Com o passar do tempo os índios aprenderam a domesticar esses animais e desenvolveram técnicas de trançado em couro cru para confecção de objetos, como laços, rédeas, chicotes entre outras.
Esses povos que eram uma mistura de índios com espanhóis passaram a ser chamados de “gaúcho”, e viviam basicamente da lida dos rebanhos de bovinos e equinos selvagens.

Com a oferta de animais espalhados pelas planícies, e a necessidade de meios de transporte e trabalho em outras regiões da América Espanhola e Portuguesa, surgiu então a oportunidade de se produzir um animal mais rústico para trabalho, quais são as mulas, oriundo do cruzamento de um equíno com um asinino.




  • Abertura da estrada

A partir das grandes descobertas de ouro em Minas Gerais, São Paulo, Goias e Mato Grosso, o rei de Portugal sabendo da grande oferta de animais na região Sul e a demanda nas Capitanias da região sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), teve a idéia de se construir uma estrada ligando o Sul do Brasil a Capitania de São Paulo trazendo tropas de muares para atender a demanda do mercado na região, também aproveitou a oportunidade de se cobrar os impostos sobre esses animais. 
português Cristóvão Pereira Abreu foi encarregado de abrir a estrada, ligando o Rio Grande de São Pedro do Sul (atual Rio Grande do Sul) até a cidade de São Paulo, trabalho que durou aproximadamente 3 anos, partindo do Sul da Colônia de Sacramento com 3.500 animais e 132 homens chegando em São Paulo em 1733.  


Carta do Rei de Portugal ao Governador de São Paulo (biblioteca UNESP)




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Segue abaixo relato do naturalista Auguste Saint-Hilarie, durante sua passagem por Sorocaba em 1820:

Não é, de resto, a agricultura que constitui a riqueza de Sorocaba, sim o comércio de muares ainda não domesticados, comércio de que a cidade é, verdadeiramente, o entreposto. Esses animais provêm da província do Rio Grande e são trazidos a Sorocaba em numerosas tropas por mercadores do Sul. Essas tropas (manadas de bestas bravas)
põem-se em marcha pelos meses de setembro e outubro, na ocasião em que as pastagens começam a reverdecer. Vários mercadores transportam suas tropas sem nenhuma interrupção, e as mesmas chegam a Sorocaba pelos meses de janeiro, fevereiro e março; outros deixam-nas rvípousar durante todo um ano nos arredores de Lages, cidade da província de Santa Catarina, e só depois desse longo intervalo de tempo fazem-nas atravessar o Sertão, imenso deserto coberto de matas, onde não há habitantes nem pastagens (479). Os mercadores de Minas Gerais vêm a Sorocaba comprar muares, conduzindo-os a seu Estado, onde os fazem domar. Anos houve em que vieram do Rio Grande a Sorocaba até 20.000 muares; em 1818, vieram apenas 18.000, pelo que o respectivo preço teve o aumento de um terço. Esse comércio rendia ao governo elevadas importâncias, porque pagavam-se em Sorocaba 3$500 (21 frs. 87 CS.) por muar proveniente do Sul (1820). Sobre essa quantia, 1$000 destinados à província do Rio Grande eram recolhidos pela alfândega (registo) de Santa Vitória, pertencente àquela província e situada em seu limite extremo, próximo à fronteira de São Paulo; mas, para facilidade do comércio, permitia-se que essa parte do imposto fosse, como a parte restante, paga em Sorocaba. Em Santa Vitória os mercadores recebiam uma permissão de trânsito (guia), com o número de animais que traziam, deixando no registo um documento de obrigação sobre o montante do imposto que teriam de pagar. Esse documento era feito em triplicata — uma das vias era enviada à administração do Rio Grande, porque era, como acabei de dizer, em proveito dessa província que essa parte do imposto era arrecadada ; a segunda via era remetida ao recebedor de Sorocabaj e a terceira à junta do tesouro (junta da fazenda real), em São Paulo, precaução tomada para que não houvesse fraude, quer de parte do mercador, quer de parte do arrecadador do imposto.
Este remetia as importâncias recebidas à junta de São Paulo, a qual entendia-se com a do Rio Grande. Sobre os 2|500 recebidos em Sorocaba, além dos 1$000 a que acabo de me referir, metade, denominada direitos do contrato era posta de reserva de três em três anos, e recolhida à conta do vendedor (480). Os 1$250 restantes tinham o nome de direitos da casa doada. Este último imposto foi criado, originariamente, em proveito de quem abriu a estrada de São Paulo ao Sul; posteriormente, porém, foi atribuído ao tesouro público, fazendo parte das rendas da província, por conta da qual era diretamente recebido (481). Os direitos de 3$500, ou 21 frs. 87 es., por muar, parecerão, não resta dúvida, assaz elevados ; mas não era tudo : os animais sobre os quais esse imposto era arrecadado, estavam sujeitos ainda a novos impostos, quando entravam na província de Minas Gerais. Os muares são, em imensa parte do Brasil, os únicos meios de transporte; sobrecarregá-los com tantos impostos prejudica, certamente, o comércio e a agricultura, que, no país, tanto necessitam, de encorajamento. Seja como for, resulta do quadro das finanças da província de São Paulo para o exercício de 1813, que nesse ano, entraram em seu território 20.525 muares; sabemos que, nos anos imediatamente precedentes a 1818, foram introduzidos 30.000; e, finalmente, em 1838, a introdução elevou-se a 32.747. Esses dados são, não resta dúvida, pouco numerosos; entretanto, se os números de 1813 e de 1838 não são excepcionais, tenderiam a provar que a necessidade de muares fez-se sentir cada vez mais no espaço de 25 anos, e que, consequentemente, as produções agrícolas tornaram-se de mais em mais avultadas, tendo se cultivado, gradativamente, maiores extensões de terras.

Trecho do caminho no estados de São Paulo qual foi utilizado pelos tropeiros vindos do Sul rumo as feiras de muares de Sorocaba.






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